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Misturar produtos de limpeza é uma prática comum em muitos lares brasileiros, mas também é uma das mais perigosas. O que parece ser apenas um reforço na faxina pode resultar em tragédia. Produtos como água sanitária, vinagre, desentupidores, amônia e álcool, quando combinados de forma incorreta, geram reações químicas que liberam vapores tóxicos como cloro e cloramina. A inalação desses gases, mesmo por poucos segundos, pode causar queimaduras nas vias respiratórias, intoxicação aguda, perda de consciência e morte. E isso não é um exagero. É uma realidade silenciosa, mas fatal.

Dados oficiais do SUS mostram que entre 2007 e 2023 foram registradas mais de 700 mil intoxicações exógenas em adultos, e parte significativa está ligada ao uso incorreto de produtos de limpeza. Em 2021, mais de 6 mil casos foram diretamente atribuídos a produtos saneantes de uso doméstico. Em 2023, a Anvisa registrou ocorrências graves de intoxicação hospitalar causadas pela mistura inadequada de quaternários de amônio com hipoclorito, resultando em lesões na pele, olhos e sistema respiratório. O que ocorre em hospitais também acontece dentro de casa, em banheiros mal ventilados, cozinhas fechadas ou áreas de serviço sem janelas.

Segundo o toxicologista Dr. Sérgio Graff, do Hospital das Clínicas da USP, “os produtos de limpeza são a segunda maior causa de intoxicação em ambientes domésticos, perdendo apenas para os remédios”. Ele alerta para os perigos concretos. “É comum misturar água sanitária com produtos à base de amoníaco. Dá uma explosão na hora que pode provocar cegueira e queimaduras graves. Infelizmente, esses casos são muito frequentes nos prontos-socorros.” Ainda de acordo com ele, o cloro liberado em misturas com vinagre ou desinfetantes pode causar irritação nos olhos, boca e nariz, evoluindo rapidamente para bronquite, pneumonia química e risco de parada respiratória.O risco não é apenas tóxico, mas também alérgico. O alergologista Dr. Octavio Grecco explica que “por serem muito ácidos ou cáusticos, esses produtos rompem a barreira cutânea, formando feridas que lembram queimaduras”. Solventes, soda cáustica e alvejantes estão entre os mais comuns a causar dermatite com sintomas como ardência, coceira, vermelhidão, bolhas e até necrose, em casos mais severos. Ele alerta ainda que muitas dessas lesões exigem acompanhamento médico, podendo levar à internação. A médica alergologista Dra. Daniele Alevato reforça que perfumes e fragrâncias presentes em muitos produtos de limpeza são gatilhos para crises de asma, rinite e até reações anafiláticas em pessoas sensíveis. Ela enfatiza que “mesmo o cheiro agradável de um produto pode ser tóxico para o sistema respiratório de um paciente alérgico”.

Prevenir esses acidentes exige responsabilidade. Nunca se deve misturar produtos de limpeza. Jamais. É essencial usar luvas ao manuseá-los, manter os ambientes abertos e arejados, utilizar máscara e óculos de proteção sempre que houver risco de vapores ou respingos. Os rótulos devem ser lidos com atenção e os produtos nunca devem ser transferidos para outros recipientes. Além das intoxicações químicas, muitos desses produtos contêm fragrâncias, corantes e substâncias que podem desencadear crises alérgicas, ataques de asma, dermatites graves e outras reações, especialmente em crianças, idosos e pessoas com sensibilidade respiratória.

A Anvisa regula e fiscaliza a composição e rotulagem desses produtos, mas não pode impedir o mau uso. A responsabilidade final é do consumidor. Muitos itens ainda vendidos no Brasil já foram proibidos em outros países por representarem riscos à saúde pública. E sim, há substâncias domésticas que, se manipuladas de forma errada ou criminosa, podem ser utilizadas até mesmo na produção de gases fatais ou artefatos perigosos. Mas a maior ameaça está no uso rotineiro e desinformado. O perigo está em casa, ao alcance das mãos. Basta um erro. Basta uma mistura. E a consequência pode ser a morte.

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